A
tempestade passou. O sol brilha e com o tempo a sombra vai passando, muda daqui
para ali, modificando suas formas e alterando identidades. Também mudam as
flores, as folhas, os papeis de balinha e os santinhos dos candidatos. Também mudam
daqui para ali toda vez que o vento passa. As crianças brincam na rua, que
agora é de terra, mas não se sabe bem se é de terra ainda ou é terra já. Elas,
as crianças, quase nunca passam, elas quase sempre estão.
Passam
dias de sol. Passam dias de chuva. Os dias passam. As moças, de saia ou shorts,
passam. Latas d’água em cabeças descem e sobem o morro sem um interrupto
momento, e também aqui não se sabe dizer quando cheias ou vazias.
Nos
pés, o que mais passam, de couro, plástico ou meia, são as bolas. Passam e
quase despassam de tanto que passam. E os meninos que as transpassam têm nas
vidas as idades das crianças. Nove, Seis, Três. Cinco, Quatro e Doze. A menina
tem 10 e é cada passe! São todos sem camisa e a menina é também. Têm seus
semblantes felizes, mas alguma coisa nítida em todos os olhos tira toda
possibilidade de tranqüilidade plena. Estão ali brincando, e é a vida que
segue. Ali se aprende a cair e levantar.
Passam
passos, passistas, sambistas e a banda que fala amor. O jardineiro e a flor. O
bonde, o motorista e o cobrador. Tudo passa. Trans passa, frutinha passa, machismo
passa.
Passa
o Tucano, o Bem-te-vi e a Sabiá. Andorinhas trazem verão. Pássaros em bando voam
em revoada. Passarinhos.
No
meio dia ou alvorada, crepúsculo ou madrugada passam por ali todos os planos do
sistema.
Marechais,
Generais, coronéis. Tenente, Major, Capitão. Cabo de cabo-a-rabo e os que são aspirantes.
Aviões são as estrelas passando.
Bala
de AK pra cá, bala de AK pra lá, papeis de balinha do chão e são mileduzentos
tiros atirados por cada homem da lei, a cada minuto que passa, e nesses cada “um
minuto” são alcançados dezoitomil raios de metros para se alvejar. Tudo agora
passa num piscar de olhos.
No
lugar onde se aprende a cair e levantar, três daqueles meninos, que tinham nas
vidas as idades das crianças, caíram mas não levantaram. Passa sempre a guerra.
A
tempestade passou. O sol brilha e com o tempo a sombra vai passando, muda daqui
para ali, modificando suas formas e alterando identidades. Também mudam as
flores, as folhas, os papeis de balinha e os santinhos dos candidatos. Também mudam
daqui para ali toda vez que o vento passa. As crianças brincam na rua, que
agora é de terra, mas não se sabe bem se é de terra ainda ou é terra já. Elas,
as crianças, quase nunca passam, elas quase sempre estão.
uau!!!! <3
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