quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

a minha vida em São Paulo (e não sei de quantos mais)

Aí as pessoas falam: "Acho que você tem que sair um pouco de São Paulo. Não sei. Tomar um ar fresco. Respirar de verdade sabe. Andar um pouco e dar um mergulho.Viver uma cachoeira! Entrar de baixo de uma queda.  Dá uma chacoalhada na vida." Dar uma chacoalhada na vida você tá querendo me dizer acordar? Tipo, alou, a vida está aí. Entendi. Tipo uma queda. Quedas fazem isso mesmo, mas não sei com que eficiência, meu corpo é um baú, que guarda relíquias em forma de cicatrizes literais. Tapas na cara também são ótimos despertadores, mas esses no sentido figurativo, e me parece que os tapas na cara que São Paulo dá na gente não são nada figurativos. Ela é agressiva, é autoritária. Vive nos dizendo: " E aí, vai ficar aí rolezinho? Andando de mão dada? Tocando um violão ou o quê?"
É muita coisa. É muita coisa atrapalhada na cabeça.
Acho que esses gazes conduzem à nebulosidade lógica. Depressão. Amigos que dizem que estão perto mas não estão. A cocaína. Ah, que bom que ela não existe mais em minha vida.
O amor. Não sabem amar. Não querem amar. São egoístas e não querem dar o que não tem.
E é isso que eu sinto. Me sinto envelhecendo em São Paulo. No mesmo esquema quatrocentão, sem criatividade. Me sinto cada vez mais parecida com a Brigite Bardot do Tom Zé. Velha, triste e sozinha. Velha para lançar o meu primeiro livro.
E se vivo no meio de um povo maluco e masoquista, também me sinto maluca e masoquista. E é claro que tudo isso não acontece só aqui, mas acho que a  falta de tempo que as pessoas tem para perceber o quanto importante é dividir e comungar, causada pelo excesso de devoção ao trabalho, a inveja, a cobiça, disfarçadas de ambição e garra. Isso se mostra bem mais claro e nítido aqui. Sem nenhum nível de astigmatismo que nuble isso aos meus olhos.
Fico triste que os grandes artistas não tenham conseguido amolecer esse coração acimentado. Foi isso. Chegaram com aquela maquinona medonha, um daqueles monstros típicos daqui, a bitoleira, essa grande o suficiente, que coubesse o todo o cimento para encobrir a Grande São Paulo.
Eu parei de culpar o mundo pelos meus problemas, mas não paro de culpar a São Paulo.

Um comentário:

  1. Precisão cirúrgica na descrição de São Paulo! Em especial, quarto parágrafo.

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